A nova taxa de juros, que caiu no último dia 6 para 8,25%, trouxe algumas mudanças para quem é investidor. O corte do Banco Central acionou o gatilho que faz a rentabilidade da poupança cair para 70% da Selic mais a Taxa Referencial (TR). Com isso, a caderneta que rendia ao menos 0,5% ao mês (ou 6,17% ao ano) mais a TR, passa a render algo equivalente a 5,77% por ano mais a taxa referencial.
Este mecanismo de redução da rentabilidade da poupança funciona sempre que a taxa de juros ficar igual ou inferior a 8,5%. Ele foi criado em 2012, quando a taxa de juros alcançou 7,25% e a poupança se tornou mais interessante do que outros investimentos, prejudicando o Tesouro Nacional, por exemplo, a vender títulos da dívida pública.
Diante desse contexto, o investidor que deseja garantir um rendimento melhor para o seu dinheiro terá que deixar o perfil conservador um pouco de lado ou alongar o prazo de resgate dos recursos.
Aqueles que estão acostumados a aplicar na poupança e em outros investimentos de renda fixa – como CDB (Certificado de Depósito Bancário, Tesouro Direto e LCI (Letra de Crédito Imobiliário) – o cenário incentiva que o investidor tome um pouco mais de riscos, migrando para fundos multimercados ou ações, por exemplo.
De acordo com o economista e sócio da Valor Investimentos, Paulo Henrique Correia, a nova taxa torna investimentos de maior risco mais vantajosos. “Quem quiser continuar na renda fixa terá que alongar esse investimento o máximo que puder, ou aumentar o risco da capitalização. O valor mínimo de aplicação em um fundo multimercado, por exemplo, é de R$ 5 mil, mais vantajoso neste momento para quem pode aplicar este montante. Isso vale para quem não vai precisar desse dinheiro em um curto prazo, durante pelo menos dois ou três anos.”
O economista Gustavo Moraes Mota também aconselha que o momento está mais propício para investimentos em renda variável. “Para ter um rendimento maior que a Selic é indicado investir no mercado de ações. A Bolsa de Valores está no topo histórico dela. Com as reformas da área econômica acredito que abra espaço para a Bolsa subir mais”, comentou.
Mota acrescenta que independentemente da escolha, é fundamental ler os termos do contrato e analisar todas as taxas cobradas pelo serviço. O alerta também é dado pelo planejador financeiro Renan Lima, que cita que avaliar os custos é essencial, especialmente aquelas pessoas que não poderão segurar o capital por tanto tempo e querem manter o investimento em renda fixa.
“É preciso considerar a taxa das corretoras, geralmente entre 0,5% e 1%, que podem deixar o investimento em Tesouro Direto menos vantajoso. Principalmente porque esta rentabilidade cai no Imposto de Renda. Minha dica é que procurem corretoras que não cobram para investimentos em renda fixa, já que muitas disponibilizam este serviço de forma gratuita para atrair clientes para outros investimentos”, conta Renan Lima.
O QUE PODE VALER MAIS A PENA DO QUE A POUPANÇA
Renda fixa
Definido
Na Renda Fixa o rendimento já é definido na hora de investir.
Fundos públicos
Tesouro Selic
O investimento tem valor de investimento inicial de R$ 90,80 com rentabilidade líquida de 6,71%. Nos títulos do Tesouro há a cobrança de Imposto de Renda (IR), entre 15% e 22,5% dependendo do tempo de investimento, e da taxa de custódia.
Tesouro IPCA
O valor mínimo é de R$ 31,22. No Tesouro de Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) o dinheiro fica investido até o vencimento. Tem rentabilidade acima da inflação. Indicado para investimentos de médio a longo prazo.
Tesouro Prefixado
O valor mínimo de investimento é de R$ 30,89. O investimento de médio a longo prazo já tem rentabilidade a ser recebida até a data de vencimento definidos.
Fundos privados
Papéis de bancos
Os Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) são títulos emitidos por essas instituições. Têm uma espécie de seguro chamado Fundo Garantidor de Crédito (FGC), onde fica garantindo a devolução de até R$ 250 mil em caso de falência do banco investido.
Debêntures
A companhia emite títulos que são comprados pelos investidores. A empresa dá como garantia seu patrimônio para poder emiti-lo. O risco para o aplicador é o de a empresa quebrar.
Fundo Imobiliário
No Certificado de Recebíveis Imobiliários (CRI) o dinheiro é aplicado em imóveis e tem sua rentabilidade vinculada no recebimento de aluguéis, além da valorização dos bens. A pessoa compra o fluxo de recebimento de crédito. É isento de IR para os investidores pessoas físicas.
CRA
O Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) tem isenção de IR e IOF para pessoas físicas. Costuma ter retorno superior a maioria dos investimentos de renda fixa e é de médio a longo prazo. Pode haver inadimplência e não tem FGC.
Renda variável
Bolsa de Valores
Na renda variável os resultados do investimento oscilam podendo até ser negativos. Esse tipo de investimento é uma opção para quem deseja diversificar suas aplicações ou terceirizar a gestão delas.
Taxas mais baixas para o consumidor nos bancos
Alguns dos principais bancos do país já estão oferecendo taxas de juros mais baixas para o cliente. A redução pode chegar a quase nove pontos percentuais ao ano, dependendo da linha de crédito e do banco.
A mudança veio logo após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central de cortar o valor da Selic – taxa básica de juros da economia – em um ponto percentual, no dia 6.
A taxa média de juros que os bancos cobram dos consumidores também caiu, segundo a pesquisa da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). A associação pesquisou seis linhas de crédito. Dessas, quatro registraram queda na taxa média, em agosto.
No último mês, a taxa de juros média para pessoa física era de 7,54% ao mês (139,24% ao ano), a menor desde novembro de 2015. Já em julho, ela ficou em 7,58% ao mês (140,31% ao ano).
Na linha de crédito para pessoa física, a maior diferença entre os percentuais está no Banestes. A atual taxa ofertada no ano é nove pontos percentuais menor: de 31,8% ao ano (2,65% ao mês), caiu para 22,8% ao ano (1,9% ao mês).
Já o crédito imobiliário pode chegar a quase dois pontos percentuais de diferença entre a antiga e a nova taxa no Banco do Brasil, Banestes e Itaú Unibanco.
No Itaú Unibanco, por exemplo, a nova taxa padrão para empréstimos do Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI) é a partir de 10,7% ao ano mais Taxa Referencial (TR). Antes, era de 11,2% ao ano. Segundo o banco, essa taxa ainda pode variar de acordo com o perfil e histórico de relacionamento de cada cliente com a instituição e chegar a 9,9% ao ano.
Cinco dos seis bancos procurados pela reportagem informaram que a queda da Selic será repassada para quem pegar novos empréstimos. A Caixa Econômica Federal foi a única a informar que ainda não divulgaria qual será a mudança na taxa de juros para pessoa física ou jurídica.
REDUÇÃO DA TAXA DE JUROS
Mudanças
Banco do Brasil
Sistema Financeiro da Habitação (SFH)
A taxa anual variava entre 9,74% e 10,69%; agora passa a variar de 9,24% a 10,44%.
Carteira Hipotecária (CH)
Na CH, o juro anual mínimo era de 10,65% e o máximo de 11,74%. Agora, passa a ser 10,15% e 11,49%, respectivamente.
Banestes
Crédito pessoal
A taxa mínima mensal era de 2,65% e, agora, passa a ser de 1,90% ao mês.
Microcrédito
Os empréstimos no microcrédito tinham uma taxa mínima de 1,80% por mês. Agora, ela é de 1,50% ao mês.
Financiamento de veículo
Para financear um carro ou moto, por exemplo, a taxa mínima cobrada era de 1,60% ao mês. Hoje, ela está em 1,30% ao mês.
Crédito imobiliário
Antes, a taxa mínima para tomada de crédito imobiliário era de 10,5% por mês. Ela caiu para 9,8% ao mês.
Consignado
O crédito para pessoa física tem uma taxa mínima de 1,55% ao mês. Já o Crédito Consignado para pessoa jurídica tem a taxa mínima de 1,25% ao mensal.
Bradesco
Linhas de crédito
O banco vai repassar o corte de um ponto porcentual da taxa Selic para as suas principais linhas de crédito de pessoa física e pessoa jurídica.
Caixa Econômica
Não informado
O banco ainda não divulgou qual será a mudança na taxa de juros para pessoa física ou jurídica.
Itaú Unibanco
Linhas
Para pessoa física, a redução será nas taxas do empréstimo pessoal e cheque especial. Já para micro e pequenas empresas, serão alteradas as taxas do produto capital de giro e cheque especial.
Sistema de Financiamento Imobiliário (SFI)
A nova taxa padrão é a partir de 10,7% ao ano, mais a Taxa Referencial (TR). Antes, era de 11,2% ao ano. Mas, dependendo do perfil do cliente, pode chegar a 9,9% ao ano.
Sistema Financeiro da Habitação (SFH)
A taxa padrão em vigor é de 10,1% ao ano mais a TR. Antes, era de 10,5% ao ano. Dependendo do perfil do cliente, pode chegar a 9,3% ao ano.
Santander
Crédito pessoal
Para pessoa física, a taxa de juros era a partir de 1,79% ao mês. A nova mínima é de 1,69%.
Financiamento de veículos
O banco Santander não informou a antiga. Mas disse que a nova taxa é a partir de 1,12% ao mês.
Dica é renegociar dívidas e optar por empréstimos com juros menores
Diante da queda da taxa básica de juros, o momento é de renegociar as dívidas ou contrair um novo empréstimo que já ofereça juros mais baixos para pagar o anterior e, assim, pagar uma conta menor. Esse é conselho dos especialistas.
De acordo com o economista e professor universitário Antônio Marcus Machado, mesmo que a taxa de juros esteja mais baixa que as anteriores, o risco de não conseguir pagar os débitos continua muito alto.
“Só vale a pena pegar um empréstimo para pagar um outro que tenha juros mais altos. Se não for para quitar a dívida, não compensa porque o risco ainda está muito elevado”, comenta.
Outra opção para tentar diminuir a dívida de um empréstimo é renegociar com o banco, tentando diminuir o valor devido à instituição. “As próprias empresas credoras fazem a renegociação das dívidas. Mas é preciso analisar primeiro quais são as dívidas com maiores juros para começar por elas”, orienta o economista e especialista em finanças pessoais, Laudeir Frauches.
Antônio Marcus Machado corrobora com essa tese e diz que renegociar as dívidas vale a pena. “A pessoa vai trocar a dívida que assinou quando o juros estavam altos por uma com taxas mais baixas. Mas, nessa negociação, não se pode aumentar muito o prazo de pagamento. Tem que negociar dentro do mesmo prazo da dívida anterior, caso contrário a conta fica maior e a probabilidade de ocorrer um imprevisto é maior”.
Por: Gazeta online.